Entrevista com Adelino Cunha
Portugal, um pouco à semelhança de todo o mundo, atravessa um período crítico. De que forma os seus ensinamentos podem ajudar, de facto, os empresários a melhorarem pessoalmente e as suas organizações?
Acredito que as organizações são um espelho da sua liderança e quando um líder lidera verdadeiramente a organização segue-o. Em momentos de grandes desafios, como aquele em vivemos, mais se nota a capacidade de liderar, algumas vezes de ver além do problema.
O que ensino e treino nos nossos cursos e palestras são ferramentas simples e eficazes para que quem tem responsabilidade a assuma e pratique, em cada dia, uma liderança baseado no exemplo, e esse exemplo tem de ser positivo e justo.
Hoje sabe-se o que fazer. Temos de ajudar as pessoas a fazerem o que deve ser feito.
Na sua experiência profissional de orador motivacional para milhares de pessoas considera que em Portugal há falta de liderança?
Com toda a certeza, basta ver os resultados. E não sou o único a achar isto. Recentemente o Eng.º Belmiro de Azevedo comentou exactamente isso mesmo.
Somos um povo com imensas capacidades e potencialidades, mas que necessita de criar um sistema que faça duas coisas que considero críticas: eliminar a impunidade e eliminar a falta de reconhecimento.
Abunda a impunidade nas organizações, muitas vezes a começar pelos de maior responsabilidade que se colocam acima das regras, reduzindo-lhes o espaço de manobra para terem autoridade moral para exigir isso dos outros. Por isso tanta gente vê os erros e “assobia para o ar” como se não os visse.
Vemos isso na política, nas organizações públicas, nas empresas e até nas associações sem fins lucrativos.
Há demasiados chefes e poucos líderes. Temos de inverter a situação e treinar pessoas para criar uma nova geração de líderes, que pensam em grande, são congruentes (não quer dizer que sejam perfeitos), que olham para o mundo e não apenas para o seu quarteirão, e que percebem que serão tanto maiores quanto mais e melhor fizerem.
Chamo a atenção que a Wal-Mart tem tantos trabalhadores como o nosso país tem de pessoas que trabalham. Deixo as seguintes perguntas: como é que nós não vamos mais longe sendo quase da dimensão de uma empresa? E como é que aqui achamos que já fizemos tudo? Comparados com quem?
Há muito a fazer…
Trabalha, entre outras áreas, aspectos relacionados com a Comunicação. Há pouco cuidado por parte das organizações em saber comunicar bem os objectivos a cumprir?
Bem, há empresas que nem a Visão sabem definir e até a têm escrita nos manuais de qualidade. Acha que é por acaso que ninguém VÊ para onde vai? Conheço empresários que nem objectivos pessoais e empresariais têm definidos. Como se poderá comunicar e alinhar com objectivos, se não há uma definição correcta desses objectivos? Não é por acaso que as coisas acontecem. Os objectivos têm de ser definidos, com credibilidade, e depois devem ser comunicados às pessoas envolvendo-as nesse processo fantástico de os converter em realidade.
Tem exemplos concretos de pessoas que, graças aos seus conselhos, se transformaram em melhores pessoas, melhores profissionais e que mudaram radicalmente a sua vida?
Quem visita o nosso site pode aceder a testemunhos reais de pessoas que em muito têm melhorado com o que fazemos. Desde treinadores de futebol, em que se destaca o trabalho que o Domingos Paciência tem feito e que esteve num dos nossos cursos de Liderança, até investigadores que hoje estão em Harvard. Há jovens a tirarem 20 na escola e que, no início, tinham medo de sonhar; temos casais que voltaram a ter objectivos comuns, temos pessoas que deixaram de sofrer as limitações de terem uma fobia, podendo hoje ter uma vida normal, temos pessoas que se tornaram os melhores vendedores nacionais na área em que actuam… Também há casos de menores resultados, é óbvio, mas sempre há resultados e há muitos e excelentes casos para mostrar resultados fantásticos, que demonstram que as pessoas são realmente capazes de mudar e de melhorar. Os portugueses, em competição internacional, estão sempre nos lugares cimeiros.
O futebol profissional tem sido apontado, por diversos especialistas, como um excelente exemplo de como uma organização deveria funcionar. Mérito aos melhores e muito trabalho de grupo para se alcançarem os objectivos pretendidos. Ministrou formação a Domingos Paciência, treinador do Braga. Considera que a sua ajuda foi fundamental para que ele obtivesse os resultados desportivos mais recentes?
O Domingos é uma pessoa que tem e pratica princípios universais de êxito. É uma pessoa simples, é uma pessoa humilde, adora aprender, tem objectivos de vida, trabalha muito e sabe valorizar as pessoas. Sabe trabalhar com a impunidade e com o reconhecimento. Com todas estas qualidades o trabalho com ele foi simples e acrescentou algumas ferramentas à qualidade que ele já tem. O grande mérito é dele.
Conhecendo a realidade do Vale do Sousa e do Tâmega – uma das regiões mais deprimidas de toda a Europa – de que forma poderá o seu método contribuir para ser obtido um salto qualitativo nas organizações?
A depressão, a tristeza e a pobreza, não são estados permanentes. As pessoas não SÃO pobres, ESTÃO pobres, não SÃO depressivas, ESTÃO depressivas. Portanto, a primeira coisa a fazer é mudarmos a forma como falamos, como comunicamos. Deveria haver um canal de TV 100% positivo que mostrasse os melhores exemplos e os exemplos de sucesso para que pudéssemos desligar de tudo o que vemos e ouvimos, que amplifica a depressão, e passar a ter mais ESPERANÇA e SONHO. Muitos são empresários, porque tiveram um sonho. Será que esse sonho está vivo ou já se apagou? Temos de o reactivar e por toda essa gente a sonhar. Tenho a certeza absoluta que com um programa desses a criatividade e a inovação desenvolvem-se, e as soluções aparecem. Para quê investir, inovar, trabalhar, se no final não houver recompensas materiais e emocionais? Podemos activar programas que estimulem estas capacidades “adormecidas” e fazer com que elas se convertam em ideias, empresas, produtos e resultados. Mais tarde ou mais cedo vai acontecer. Se calhar este é o momento.